domingo, 22 de abril de 2012

Anjo sem asas .


Chorei feito criança no começo desta noite. Eu quis encontrar explicação para um sentimento que já ultrapassou todos os meus limites. Que desatou minhas linhas de pensamento mais firmes e desorganizou meu modo de vida. Será possível alguém ocupar mais espaço que eu dentro de mim mesmo? Acreditar que não, seria burrice. Quando me vi perdido, contemplando a lua em seu lençol de estrelas, encontrei no céu a resposta. Enxerguei seu rosto na escuridão, formado por pontos e linhas cinzas feito os corações das pessoas vistos daqui, da janela. Neste momento, ajoelhei-me ali mesmo e as lágrimas não tardaram a jorrar. Cheguei a pensar na real existência do destino.
Decorei cada detalhe, mergulhei em cada centímetro, senti cada traço como se dali viesse a fonte da minha alegria. E amei. Profundamente, como nunca, você. Da forma mais intensa. Um amor dissolvido na emoção de ter encontrado um alicerce para alma. Se eu pudesse, fixaria meus olhos nos seus e gravaria cada contorno do seu rosto. Para lembrar do seu sorriso em cada amanhecer, depois de abrir os olhos. Já que à noite você está aqui. E sustentaria a lembrança por quanto tempo fosse necessário.
Durante o decorrer do dia, despertei meus sonhos enterrados nas raízes do silêncio. Um dia irei te mostrar como minha voz ganha força diante da consumação do meu amor todas as noites, e como ela nasce, cresce e vive enquanto o tempo passa vagarosamente à espera de mais um espetáculo no céu. Em alguns sonhos, você tinha meu nome escrito na palma da mão esquerda, e a colocava em cima do coração como se guardasse algo raro. Ou de extrema importância. Como se você já me amasse sem saber porquê. Em outros, eu esperava sua chegada e nada acontecia. Nessas noites da minha solidão, eu levantava meus braços e gritava: “Meu amor, venha logo.” Era frio, e eu sentia medo. Mas como poderia eu sentir medo, se onde há amor o caminho é mais claro? Eu era arrastado para um mundo de apreensões. E acordava assustado, querendo que o entardecer se pusesse o mais rápido possível.
A noite nos mantinha vivos, meu anjo. E o céu se desmanchava em canções quando nos encontrávamos. Antigamente, antes de você e de tudo isso, eu era cego. Completamente cego por não querer ver. E agora tenho medo de que, ao vasculhar minha vida, sinta-me obrigado a mudar. Mas ainda assim, abra meus olhos outra vez, amor. E que minhas aspirações se consolidem ao seu lado. Desejo que nossas esperanças sejam devidamente partilhadas, assim como tudo. Que esse amor seja produtivo e que nunca, nenhum de nós, recuse a si mesmo.
Dei-te tão pouco, meu querubim. E sinto até uma certa vergonha por não saber recompensá-la esvaziando todo o meu vocabulário, espalhando entre palavras as partes do meu amor. Desculpe-me por ser tão vazio em comparação à sua fartura de sentimentos. Mas aceite este jovem que só te quer bem. Aceite o meu dom como ele é, e também tudo o que ele não é. Para que talvez assim, eu possa entregar de forma inteira minha própria miséria; e que tudo seja recriado. Todos os dias. Assim como o céu onde habita, as estrelas para as quais fornece luz e o amor que divide aqui, com seu eterno sonhador… E que na próxima noite nos encontremos mais uma vez.

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